domingo, 28 de junho de 2015

Colorindo com os corantes

Os corantes são substâncias que, adicionadas a outra substância, alteram a cor desta. Difícil se determinar o primeiro registro do uso, mas há 4.000 anos o homem já desenhava nas cavernas usando corantes a fim de se comunicar e contar suas histórias. Os egípcios também faziam uso de corantes nas decorações dos palácios e em maquiagens com pigmentos extraídos da natureza. Daí por diante, o uso dos corantes se estendeu para usos variados desde tecidos, cerâmicas, couro, cabelos e diversos materiais. Atualmente as indústrias costumam colorir seus produtos a fim de padroniza-los e torna-los mais atrativos, porque no processo de industrialização eles podem perder a tonalidade natural. 

Analisando o mercado vemos que um batom avermelhado, que um dia já foi considerado símbolo da realeza pelo alto custo de produção, hoje deve ter um tom mais chamativo e que geralmente leva o inconsciente a comparar com as frutas vermelhas e toda a simbologia criada pelo marketing para ser jovial, trazendo sensualidade e frescor. A bolacha de morango das crianças é sempre rosada para dar a impressão que há mais frutas na composição. Esses corantes podem ter origem sintética ou natural, ou seja, podem ser manipulados em laboratório ou extraídos diretamente da natureza.

Para escolhermos um produto na prateleira observamos a embalagem, a disposição na gôndula, a necessidade ou a imagem daquele item criado pela publicidade. Um primeiro olhar para a embalagem se atém a informações como: contém glúten, zero açúcar, zero gordura, 100% natural, integral, orgânico, não contém leite, entre outros. Dificilmente lemos os ingredientes, que se escondem em letras minúsculas no pacote, e quando há essa leitura a lista de conservantes e corantes, com nomes e códigos técnicos desconhecidos do senso comum, será simplesmente ignorada. Para nós vegetarianos ou para as pessoas que sofrem de alergias a corantes é necessário conhecer as numerações e tais nomes incomuns.

Utilizados industrialmente por terem maior estabilidade e acesso em qualquer época do ano, os corantes sintéticos são extraídos de derivados do petróleo e carvão vegetal. O corante orgânico sintético é feito a partir de algas, fungos e bactérias (leia mais). Com o aumento da preferência dos consumidores por corantes naturais livres de químicas e com menor risco de reações alérgicas, é muito comum encontrar produtos com corantes naturais como o urucum, o caramelo e o carmim, por exemplo.

Sobre os corantes naturais, há duas origens: vegetal ou animal. O assunto é interessante e muitas pessoas, inclusive nós leitores assíduos de rótulos, às vezes deixamos passar. De origem vegetal existem: a cor vermelha extraída da beterraba; a amarela, da cúrcuma; a verde, da clorofila (geralmente da alfafa); o marrom, do cacau; o roxo, da uva, framboesa, amora, cenoura roxa ou repolho roxo. Há o grupo dos carotenóides e o caramelo que, segundo o blog S.O.S Vegan, podem ser de origem vegetal ou animal, mas não encontrei artigos ou legislação vigente que conste a origem animal para esses corantes.

A cor dos carotenóides varia desde laranja avermelhado até violeta. É utilizado na indústria alimentícia, farmacêutica, cosmética e de ração. Usado também como enriquecedor de alimentos, pois após ingerido o corpo o transforma em vitamina A. O grupo dos carotenóides é extenso e os extratos naturais mais usados industrialmente são: urucum (Bixa orellana – Bixina ), cenoura (Daucus carota – β-caroteno), óleo de palma (Elaesis guineensis – β-caroteno), açafrão (Crocus sativus – crocetina), tomate (Lycopersicum esculentum – licopeno) e páprica (Capsicum annuum – β-criptoxantina) (leia mais).

O corante caramelo é um dos mais utilizados atualmente e permite uma variação de cores enorme, desde o palha até o marrom escuro. É obtido a partir do aquecimento de açúcares a temperaturas superiores ao ponto de fusão. Além da confusão em relação ao nome caramelo, devido a cor do corante e não ao doce caramelo, há diversas discussões sobre a presença de lactose ou caseína na produção do corante. Não encontrei artigos científicos ou legislação que citasse a origem animal desse corante no Brasil, pois na prática sua origem vem da frutose ou glucose de milho (saiba mais).

Agora que falamos sobre os corantes naturais e de origem vegetal ficou mais fácil entender esses nomes nas embalagens e na próxima vez que você decidir ler os ingredientes terá aquele click: "esse nome aqui eu sei o que é e de onde vem".

Como a nossa natureza é perfeita e os animais fazem parte dela, vamos falar sobre o que acontece quando o homem resolve tratá-los como produto de exploração e consumo.

Como assim natural mas de origem animal? Como eu disse no início, tudo que é extraído diretamente da natureza é considerado natural e o nosso próximo corante é produzido a partir de nada mais nada menos que milhares de insetos esmagados. O corante Carmin de Cochonilha é obtido da extração do inseto Cochonilha (Dactylopius coccus costa) a partir de partes secas do corpo da fêmea. São estimadas 140.000 fêmeas do inseto cochonilha para a produção de 1kg do corante. Esse inseto chamado popularmente como "pulgão" vive em cactos nativos na região do México e é cultivado na América do Sul. A principal origem de produção é peruana, sendo extremamente explorada pela economia do país desde a criação do inseto até a obtenção do corante (vídeo).

(divulgação)
Há diversos nomes oficiais para este corante de acordo com a sua aplicação, no ramo de cosméticos é identificado por numeração e no alimentício por nomes. Em geral, os nomes que podem estar presentes nos rótulos são: Carmim, Goma Laca, Carminas, Laca de Alumínio, C.I 75470, Corante ou Colorizante E120, Corante Natural Vermelho 3, Corante Natural Vermelho 4, Cochineal, Carmim de Cochonilha e Ácido Carmínico.


(divulgação)
O corante é da cor vermelho púrpura e é usado para dar o tom rosado de cereais, aperitivos, confeitos, coberturas, sobremesas, lácteos aromatizados, massas, molhos, queijos, recheios, refrescos e refrigerantes, sucos de frutas e xaropes para refrescos. Também é permitido pela Anvisa o uso desse corante em qualquer produto de higiene pessoal, nos cosméticos e em perfumes. E ainda nos batons, sombras, cremes corporais e esmaltes (Anvisa RDC nº 79).

Não consumir produtos com o corante carmim, além de ético, por não explorar os animais, é também uma atitude que demonstra bom senso. Você já se imaginou comendo pulgão esmagadinho assim? Além do mais o corante carmim quando ingerido é um possível alergênico que pode ser comprovado por exame de sangue. As reações mais comuns são coceira e inchaço. 

São essas as principais informações sobre corantes naturais da indústria alimentícia, com base nela podemos observar os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes além dos medicamentos como xaropes e comprimidos coloridos. Deixe nos comentários em qual produto você já achou nos ingredientes um corante que na sua opinião não precisava estar lá.

Até logo,
Nayara Assunção

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