quarta-feira, 24 de junho de 2015

Se vira na batatinha!

Há alguns anos, quando me tornei vegana, acreditei que meu maior desafio seria retirar da dieta os derivados do leite, tais como brigadeiros e queijos, apegada que eu era a essas guloseimas. Hoje posso dizer que o paladar se desapega muito rápido quando olhamos para essas “guloseimas” e a consciência nos coloca de cara para a tortura e exploração cruel. Tudo que antes era tentador e delicioso passa a ter uma cara feia para nós. Cara de sofrimento. Eca!

Depois desse desapego, um universo de novas gostosuras se abre. Nós, veganas, procuramos novos gostos como quem pratica um esporte. A cada novo chocolate descoberto, uma vitória! Corremos para o abraço das amigas de causa, como quem comemora um gol. Recentemente descobri um queijo vegano muito saboroso. Fiz diversas combinações: queijo quente, queijo frito, tapioca de queijo, etc., etc. Contei para as meninas e nova comemoração explodiu! Viva!

Não me falta nada, mas, como nem tudo é festa, outros desafios se impõem à vida de quem opta pela não-violência. Se eu ainda como chocolate, queijo, sorvete, hambúrguer, enfim, qualquer tipo de alimento que possua sua versão vegana, qual pode ser então a minha dificuldade? Que soem os tambores! TAM TAM TAM TAM: a dificuldade são as pessoas. Não exatamente as pessoas, mas o convívio com elas, pois repetidamente nós veganas somos colocadas em situações constrangedoras por sermos diferentes da maioria.

Eu, como boa carioca que sou, adoro sair do trabalho e ir direto para um choppinho, principalmente quando o horário de verão nos presenteia com um dia comprido de sol. Sentada à mesa com novos amigos, ainda não acostumados à minha condição alienígena, começa a jornada da hobbit-vegana em meio aos trolls carnistas: “Você não come carne e derivados? Mas nem peixe?”. “O que você come, então?”. Foram tantas as vezes em que respondi a estas singelas perguntas que agora repito as respostas rapidamente, como quem aciona pela milésima vez a reprodução de uma voz gravada. “Sou contra a tortura, escravidão e assassinato.” Essa tem sido a versão resumida que apresento em meus interrogatórios.

Agora, sendo mais boazinha, deixa eu contar o que eu como. Eu sou vegana, mas nunca fui muito natureba. De uma maneira geral não como frutas e não sou muito chegada a saladas, porque gosto de comida quente. Então, além das centenas de legumes, feijões, grãos, castanhas, cogumelos, cereais e tudo mais que qualquer pessoa saudável pode comer, o que eu faço nessas situações em que todo mundo esta devorando uma picanha, ou melhor descrevendo, uma pobre criatura inocente que morreu sob tortura sem merecer?

Recentemente estive em uma cidade extremamente carnista e mesmo lá eu me virei. Fui a Buenos Aires e sobrevivi, graças às habilidades que desenvolvi nos últimos 4 anos para me virar em qualquer situação. Então, vão aí os meus macetes:

Pizza 100% vegetal em Buenos Aires
Foto por: Helena Mourão
- Pizzas. Sim, pizzas! Eu pergunto se a massa de base leva algum ingrediente de origem animal. A pergunta deve ser detalhista, pois a maioria das pessoas não se lembra do que é de origem animal. Pularam essa aula na escola. Então, a pergunta deve ser assim: a massa da pizza leva leite, ovo ou manteiga? Na maior parte das vezes, a massa das pizzas costuma ser apenas a mistura de farinha, água, fermento biológico, sal e óleo vegetal. Caso isso se confirme, escolha o seu sabor predileto e peça uma pizza sem queijo. Vejam esse lanchinho que descolei em Buenos Aires. Hummm....






Prato executivo com troca de porções
Foto por: Helena Mourão
- Pratos à la carte: sempre é possível negociar. O dono do estabelecimento não vai ficar chateado se você pedir para trocar a porção defunto de um prato por uma outra porção qualquer. Muitas vezes, eles trocam por duas! Agora, se o estabelecimento não topar a troca, mude de lugar, né? Não dá para frequentar estabelecimentos que não têm um mínimo de flexibilidade em relação a um pedido tão simples e justo, que é retirar um cadáver do prato e colocar um legume no lugar.




Bruschetta com pão 100% vegetal, tomates e tempero
Foto por: Helena Mourão
- Bruschettas: geralmente feitas em pão italiano, cuja receita original não leva ingredientes animais, a bruschetta pode ser servida apenas com o tempero e os tomates, sem queijo. No entanto, é muito importante perguntar sobre a origem do pão. Se ele for artesanal e não tiver sido feito com ingredientes animais, ok. O problema são os industrializados, pois muitas vezes os atendentes não sabem dizer a composição do que já veio pronto. Se o atendente não souber responder, esqueça e pense em outra opção.





Restaurante a quilo em Botafogo, Rio de Janeiro
Foto por: Helena Mourão
- Comida a quilo: preciso comentar? São tantas as opções que o desafio não é escolher o que comer e, sim, escolher o que vai ficar de fora do prato, para não acabar comendo uma tonelada e sair rolando do restaurante.








Wok com arroz e legumes em Ilha Grande, RJ
Foto por: Helena Mourão
- Wok: se você vê que não há nenhuma opção vegana no cardápio, mas percebe que o restaurante possui alguns legumes distribuídos pelo menu, peça ao cozinheiro (se ele for gente boa) para fazer um misturadinho e passar na frigideira. Isso é coisa simples. Se o atendimento for bom, você consegue. Com jeitinho, pergunte: “pode jogar um arroz, tomate, batata, palmito e cenoura na frigideira com um fio de azeite?” Dá um sorrisão e vê se cola. O pior que vai acontecer é você levar um “não”. Isso você já tem.


Se nada mais der jeito e você se ver num estabelecimento que não vai fazer nada, absolutamente nada para te ajudar, lá vêm elas, as nossas amigas batatas fritas. É o pior que pode acontecer: terminar a noite com um punhado delas. Vamos combinar que não chega a ser um sacrifício, certo? 

Quando a opção é defunto ou batata, ok, você venceu: batatas fritas!

Escrito por Helena Mourão

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