Outro dia, numa mesa de chopp com
minha prima, ela me disse: “Nossa, prima, você é um ser humano especial. É mais
evoluída. É iluminada”. Apertei os olhos e perguntei: “Oi? Por que?”. Ela me
respondeu que acredita que pessoas veganas são mais evoluídas e por isso
conseguem viver sem matar os animais.
Por um momento senti a tentação
de aceitar o elogio e, assim, poder ostentar o título de ultra mega blaster
mestre da evolução. Fiquei pensativa. Imaginei uma cena: eu de capa voadora e uniforme
sexy de super-heroína, flertando com vilões, trazendo-os comigo para o lado do
bem e, depois, sendo aplaudida pela multidão agradecida. Super vegan. Musiquinha
de filme da Marvel tocando na minha cabeça. Fiquei até com um sorrisinho babaca
no rosto.
Voltando à realidade, estou eu lá
embaixo, junto da mesma multidão. Nada tenho que me diferencie de nenhum outro
ser humano, seja ele vegano ou carnista. Nada desse papo de evolução, iluminação.
Nada disso.
É preciso esclarecer: quando eu
comia carne, eu gostava de carne. Quando eu comia queijo, eu gostava de queijo.
E eu simplesmente amava brigadeiro. Chupava leite condensado na lata e comia
camarão de espeto na praia.
Se eu fosse diferente de qualquer
pessoa, eu deveria ter sentido o asco que essas coisas hoje me provocam desde o
meu primeiro dia de vida. Só que não. Comia tudo achando bem legal.
O meu veganismo não é
transcendente. Não é espiritual. Não é um superpoder (I wish!).
Não é preciso nenhum dom especial
para se sensibilizar com o sofrimento inominável ao qual os animais são submetidos
todos os dias. Eles são cozidos vivos. Têm suas peles arrancadas, sentindo cada
minuto de dor. São separados de suas mães no momento do nascimento. São
triturados aos milhares em liquidificadores gigantes. São espancados. São
estuprados. Vivem confinados em espaços minúsculos, em que qualquer movimento,
mesmo o movimento de uma asinha, fica impossibilitado. Só saem desse umbral
para morrer. E lentamente.
Qual é o nível de evolução
necessário para ser contra tudo isso?
O paladar não pode estar acima de princípios tão básicos
como o da não violência. Quando você se conscientiza a respeito do terror que
está patrocinando, o veganismo passa a ser a escolha mais fácil. Praticar crueldade
ou ser vegano? Financiar a tortura ou ser vegano? Matar ou ser vegano? São escolhas
muito simples. E qualquer pessoa pode escolher ser vegana. A qualquer momento.
Quer ver iluminação, bondade, transcendência? Olhe dentro
dos olhos dos animais que hoje você costuma comer ou explorar. Conviva com um
deles. Apenas por um dia. Aí, minha amiga ou amigo, você vai conseguir ver algo
realmente especial.
Escrito por Helena Mourão
Amei <3
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