Caí da cama e de cabeça!
Meu pai, ao assistir uma matéria na televisão, me enviou um whatsapp (aderiu à modernidade, depois de muita resistência) com os seguintes dizeres: “Ellen acabei de saber o porquê você é vegana, de acordo com sua mãe, com três meses de idade você caiu da cama – detalhe, de cabeça”.
Se houve alguma influência da queda
no meu sistema neurológico e que me levou a ser vegana eu só tenho que
agradecer, porque posso afirmar que o veganismo me fez uma pessoa mais
sensível, inteligente e interessada em ler e aprender sobre tudo, tudo!
Quando alguém pergunta se é difícil
ser vegano, está se reportando ao fato de não comer carne. A resposta a essa
pergunta é simples: não, não é difícil deixar de comer carne. Difícil é ter que
correr atrás e absorver toda a informação que o veganismo te traz e,
principalmente, difícil é se conscientizar do tempo perdido e de quão alienada
você estava no mundo.
A decisão de não mais me alimentar
de nada de origem animal foi simples, o que eu não fazia ideia era da
consequência que tal decisão acarretaria na minha vida, porque, a partir de
então, as informações e aprendizado subsequente não pararam mais. No meu caso,
as coisas aconteceram mais ou menos nessa ordem: -deixar
de comer carne; -aprender sobre a realidade dos matadouros; -aprender sobre a
realidade da produção de ovos e leite; -deixar de comer ovos e leite; -aprender
sobre o veganismo; -diminuir, no dia a dia, o máximo possível de produtos que
colaborem direta ou indiretamente com a exploração animal.
Virar ativista, mesmo que limitando-se à família e amigos, também
é uma consequência. Você se dá conta de que não basta ser vegano sozinho. Uma
pessoa parar de comer carne não melhora muito a situação dos animais (mas já é um começo) e aí vem
a parte ativista, conversar, conscientizar e disseminar o veganismo. Com isso,
constantemente, o vegano é colocado em situações que exigem paciência e
conhecimento e para poder estar preparado tem que saber o mínimo sobre:
biologia, nutrição, fisiologia, ecologia, sustentabilidade, história, religião,
especismo, psicologia e a lista segue.
Desse ponto para frente, a partir do veganismo, aprender, ler, estudar, raciocinar e reavaliar condutas se tornaram tarefas diárias. Não tem mais como voltar atrás, o veganismo abriu meus olhos e me colocou em caminhos que levam sempre a ter mais consciência sobre as realidades que fogem do meu cotidiano. No mais, com o veganismo você ainda vai acabar tendo contato, ainda que indiretamente, com as demais lutas sociais: racismo, sexismo,
feminismo e interseccionalidade destas. Blogs, artigos, sites, páginas de
facebook, grupos de whatsapp, que a princípio, imaginava eu, serviriam para me
esclarecer somente sobre o veganismo, se tornaram ferramentas de leitura,
debates, informações intermináveis sobre tudo o que acontece à minha volta e eu
desconhecia, ou fingia não ver. Não se passa um dia sem que eu tenha algo novo
ao meu alcance.
Ora! cair da cama me fez muito bem. Demorou, mas me fez bem. Apesar de meu pai achar que sou terrorista e radical, o veganismo me trouxe paz
de espírito, conhecimentos intermináveis e questionamentos que, com certeza, me
levam a cada dia tentar ser uma pessoa melhor, não melhor do que ninguém, mas
melhor do que fui ontem.
Escrito por Ellen Padoan
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