segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Caí da cama e de cabeça!


          Meu pai, ao assistir uma matéria na televisão, me enviou um whatsapp (aderiu à modernidade, depois de muita resistência) com os seguintes dizeres: “Ellen acabei de saber o porquê você é vegana, de acordo com sua mãe, com três meses de idade você caiu da cama – detalhe, de cabeça”.            
           Se houve alguma influência da queda no meu sistema neurológico e que me levou a ser vegana eu só tenho que agradecer, porque posso afirmar que o veganismo me fez uma pessoa mais sensível, inteligente e interessada em ler e aprender sobre tudo, tudo!
          Quando alguém pergunta se é difícil ser vegano, está se reportando ao fato de não comer carne. A resposta a essa pergunta é simples: não, não é difícil deixar de comer carne. Difícil é ter que correr atrás e absorver toda a informação que o veganismo te traz e, principalmente, difícil é se conscientizar do tempo perdido e de quão alienada você estava no mundo.
           A decisão de não mais me alimentar de nada de origem animal foi simples, o que eu não fazia ideia era da consequência que tal decisão acarretaria na minha vida, porque, a partir de então, as informações e aprendizado subsequente não pararam mais. No meu caso, as coisas aconteceram mais ou menos nessa ordem: -deixar de comer carne; -aprender sobre a realidade dos matadouros; -aprender sobre a realidade da produção de ovos e leite; -deixar de comer ovos e leite; -aprender sobre o veganismo; -diminuir, no dia a dia, o máximo possível de produtos que colaborem direta ou indiretamente com a exploração animal.
            Virar ativista, mesmo que limitando-se à família e amigos, também é uma consequência. Você se dá conta de que não basta ser vegano sozinho. Uma pessoa parar de comer carne não melhora muito a situação dos animais (mas já é um começo) e aí vem a parte ativista, conversar, conscientizar e disseminar o veganismo. Com isso, constantemente, o vegano é colocado em situações que exigem paciência e conhecimento e para poder estar preparado tem que saber o mínimo sobre: biologia, nutrição, fisiologia, ecologia, sustentabilidade, história, religião, especismo, psicologia e a lista segue.
           Desse ponto para frente, a partir do veganismo, aprender, ler, estudar, raciocinar e reavaliar condutas se tornaram tarefas diárias. Não tem mais como voltar atrás, o veganismo abriu meus olhos e me colocou em caminhos que levam sempre a ter mais consciência sobre as realidades que fogem do meu cotidiano. No mais, com o veganismo você ainda vai acabar tendo contato, ainda que indiretamente, com as demais lutas sociais: racismo, sexismo, feminismo e interseccionalidade destas. Blogs, artigos, sites, páginas de facebook, grupos de whatsapp, que a princípio, imaginava eu, serviriam para me esclarecer somente sobre o veganismo, se tornaram ferramentas de leitura, debates, informações intermináveis sobre tudo o que acontece à minha volta e eu desconhecia, ou fingia não ver. Não se passa um dia sem que eu tenha algo novo ao meu alcance.

              Ora! cair da cama me fez muito bem. Demorou, mas me fez bem. Apesar de meu pai achar que sou terrorista e radical, o veganismo me trouxe paz de espírito, conhecimentos intermináveis e questionamentos que, com certeza, me levam a cada dia tentar ser uma pessoa melhor, não melhor do que ninguém, mas melhor do que fui ontem.

Escrito por Ellen Padoan

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